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Vivemos em um mundo
globalizado e consumista, alvo para o qual se volta o mercado capital e, como
conseqüência, surgem os milhares de excluídos, espacialmente dos direitos
básicos inerentes ‘a vida. A cada dia cresce a fila dos sem terra, sem teto,
sem trabalho, sem saúde, sem educação... O Brasil é o país que mais cresce para
o mundo globalizado mas, cresce também, a miséria, a desigualdade social, a
corrupção e, conseqüentemente, a falta de oportunidades... Assim, podemos
perceber ser uma sociedade que tem como alvo o consumo desenfreado e, a muitos
brasileiros e brasileiras, são negados os direitos básicos e essenciais para
viverem plenamente. Sem encontrarem outra saída, buscam no lixo uma alternativa
de sobrevivência e dele retiram o seu pão de cada dia.
Diante desta realidade,
na qual vivem muitos de nossos irmãos e irmãs catadores e catadoras de
materiais recicláveis, a Congregação Missionária da Sagrada Família, por força
do seu carisma essencialmente Missionário, mantém um olhar preferencialmente
pelos pobres sem vez, sem voz, sem oportunidade de vida digna.
Considerando o
nosso carisma pessoal e a nossa afinidade com as questões sociais, as urgências
da missão, como nos pede a Igreja do Brasil, a Congregação nos apresentou um
campo desafiante do trabalho missionário a ser abraçado, no sentido de sermos
presenças solidárias junto aos catadores. De nossa parte pessoal e,
considerando o sonho em trabalhar com a inserção, nos tronamos mais e mais
freqüentes e presentes ao ambiente dos catadores de materiais recicláveis.
Inicialmente, o trabalho
foi empreendido na Cidade de Cajazeiras, sede da Diocese, no ano de 2012. Tal
condição implica considerar o trabalho a partir do nosso meio mais
evidente.Como já dizia Dom Helder Câmara (ano e página da citação), de saudosa
memória, “Missão é partir e não devorar quilômetros”.
Confiando no mandato
missionário de Jesus, que determina e orienta a missão no sentido de ir e
anunciar, partimos pessoalmente pelas ruas, periferias e barracos da cidade de
Cajazeiras, visitando e identificando os catadores, ouvindo suas histórias.
Sempre a pé, estivemos em suas casas, casebres e barracos de papelão.
Não foi nada fácil.
Realmente era um mundo desconhecido, uma realidade desafiadora aos nossos olhos
e ouvidos. Dentre muitos depoimentos, alguns até chocantes, podemos ilustrar o
nosso dizer com depoimentos, a seguir:
“Não jantei ontem, café nem vi hoje e já é meio
dia, mas graças a Deus já consegui meu almoço” e me convidou para almoçar com
ela. Quando Questionei o que seria o almoço ela me disse: “um pão que acabei de
achar”. no lixo, estava em uma sacola irmã, e eu posso dividir para nós duas”.
Este diálogo com dona
Francisca, sua espontaneidade para partilhar tudo que tinha a dizer, nos fez
lembrar a viúva do Evangelho, da qual falou Jesus (Lc 21,4). Veio como uma
lança e mexeu muito conosco. E, como ela, muitos irmãos nossos vivem nos lixões
de nossas cidades em busca de pão para saciar a fome. Em cajazeiras, no lixão,
existem 35 famílias e nas ruas, mais 20, portanto, são mais de 50 famílias que
sobrevivem da catação.
Estávamos vivenciando o
tempo da quaresma, nos preparando para a páscoa do Senhor. Foi impossível não
associar os fatos com os ditos sobre o povo de Deus no Deserto, alimentado pelo
maná, enquanto caminhava para a terra prometida. Sentimos que era necessário
alimentar a esperança daquele povo e continuarmos a missão, indo ao encontro
destes irmãos, ouvindo-os e incentivando-os na organização e acompanhando-os
através da formação sistemática e continuada.
Contamos com o apoio da
Congregação Missionária da Sagrada Família, Cáritas Regional Nordeste II e,
posteriormente, com a Diocese de Cajazeiras. A partir de, então, o trabalho foi
se firmando e a organização se fortalecendo. No mesmo ano, fomos à cidade de
Uiraúna, berço da Congregação, a pedido do padre Domingos Cleides Claudino,
Pároco e Fundador da referida Congregação, que nos solicitou realizar este
trabalho também em Uiraúna. Na primeira visita ao lixão, mais uma vez,
constatamos a dura realidade dos que vivem e trabalham expostos a todo o tipo
de contaminação, já que o lixo hospitalar, que deveria ser incinerado, é
depositado junto com o lixo doméstico no mesmo espaço.
Deparamo-nos com caixas
de seringas e agulhas usadas com as quais os catadores lidavam sem qualquer
proteção. Lá também, escutamos depoimentos: “Nós
somos esquecidos de tudo e de todos, inclusive da Igreja” afirmou o catador
Raildo.
Este povo simples, considerado como lixo humano por esta sociedade capitalista
tem nos ensinado muito, sobretudo, que a vida tem um valor supremo, que todo
trabalho é digno e que é possível viver com tão pouco ou quase nada, enquanto
outros consomem desenfreadamente, poluem o planeta e descriminam estes agentes
ambientais, que tanto bem fazem a humanidade na preservação do meio
ambiente.
Apesar da
vulnerabilidade e das condições indignas para um ser humano viver, entre eles
existem os valores cristãos, tais como: a partilha, solidariedade, ajuda
mútua... E na arte de reciclar, o lixo vira luxo nas mãos destes trabalhadores
que cuidadosamente tudo aproveitam, com habilidade e olhar atento para que nada
se perca, mas tudo se transforme, seja recriado.
Hoje já contemplamos com
alegria alguns avanços dos 15 catadores que coletavam no lixão de Uiraúna.
Desses, 10 estão fazendo coleta na rua. Organizados em associação conseguiram
um espaço e EPI (equipamento de proteção individual) e tem uma renda mínima
mensal de 350,00 por pessoa. De igual sorte, participam da CATA-PB (rede de
comercialização solidaria) e das formações. Hoje, vendem diretamente para a
fábrica.
Os catadores de
Cajazeiras também participam da CATA-PB e 20 catadores estão organizados em
grupos, com o EPI, e participantes das formações, também vendem o produto
coletado para a fábrica. Assim o trabalho vai se expandindo na Diocese de
Cajazeiras. Já são 4 Grupos organizados.
Ir.Francisca de Sousa
Lourenço (M.S.F)
Gostei do Blog mostra a realidade em que vivemos em nossas cidades brasileira. O povo ver e as vezes não faz nada. Que Pais é esse meu Deus!!!!
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